O rato ermitão


Cansado do viver na cidade, um rato 'muito religioso', um santarrão e beato, mudou-se um dia para uma fazenda e achou um queijo caipira. Abrindo-lhe um buraco nele enfiou-se vivo. Ali, longe do bulício dos negócios e da cidade, em eterna penitência, tinha à mão todos os cômodos, bom abrigo, queijo e boa comida. Seus irmãos, entretanto, achando-se com fome e em apuros na cidade, resolveram fazer uma coleta geral de contribuições extraordinárias e de dons patrióticos. Foram os coletores à morada do nosso ermitão, (ermitão - é o sujeito que vive no campo) contaram-lhe todos os desastres dos seus amigos e parentes, e expuseram-lhe o motivo da sua visita, pedindo-lhe um pedaço do queijo.  O outro, gordo e rechonchudo, com lágrimas nos olhos, lhes respondeu: "Vedes estas lágrimas que me correm pelas faces, nelas podeis ver quanto me apena e me causa dó o que me referis. Mas que favor vos poderá fazer este velho solitário ? Rezar, e só rezar, para que o céu vos assista e Deus vos abençoe  Contai, pois, com o auxílio de todas as minhas orações!".  Tendo assim falado, o nosso santarrão meteu-se novamente dentro de seu queijo.
Moral da fábula: Há egoístas assim; a sua delicada sensibilidade põe-lhes sempre lágrimas nos olhos, como lágrimas de crocodilo, quando ouvem a narração dos sofrimentos do próximo; porém dar algum auxílio real aos desgraçados é o que não sabem nem desejam saber.

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